Sejamos um pouco mais curiosos para buscar entender o que prevalece como mais importante: confiar, ou se fazer confiável? Ser ou demonstrar-se? Será mesmo uma questão de credibilidade? Considero uma via de mão dupla que flui quando a preocupação em não trair é maior do que a preocupação em ser traído, pois quando a preocupação em ser traído prevalecer tenha certeza que não há confiança; quando a hipocrisia submete-se à sinceridade e a integridade preenche-se de fidelidade, assim ela pode existir. No instante em que a verdade prevalece sobre a mentira, quando nos esvaziamos do medo de sentirmo-nos traídos, a confiança nos abriga. Não se revela por meio de meras comprovações e sacrifícios, ocorre em solidariedade, quando os valores próprios sintonizam com o do outro.
Será que pensamos que erramos ao depositarmos nossas expectativas em algo ou alguém relacionando-as com a confiança? Para aqueles que acreditam que esta seria uma questão de credibilidade, afirmo: depositar expectativas não é um ato de confiar. Se assim fosse, estaríamos descredibilizando-a. Mas por que não? Ou melhor, a pergunta seria: por que nos frustramos? Entender que somos seres falhos nos leva ao amadurecimento de que a confiança é um sentimento inabalável e não depositado e, simplesmente, desperdiçado. Depositar expectativas é sinônimo de incumbir, acusar, responsabilizar algo ou alguém quando elas não são correspondidas. Você já deve ter escutado a mais pura verdade: ninguém perde o que nunca possuiu. Se perdeu, não sentiu, ou sentiu de forma errada. Será que estamos entendendo o sentindo confiança? Ou melhor, será que sabemos ou aprendemos a senti-la? Acredito que podemos cometer o infeliz erro de confundi-la com a conveniência por estarmos, às vezes, apegados à nos doarmos menos pensando em exigir mais dos outros.
Seria surreal da nossa parte revoltarmo-nos e apoiarmos-nos na descrença de que não devemos confiar em absolutamente ninguém e em nada na vida, apenas em si. Entendamos que ela é o pivô que harmoniza e concretiza uma relação verdadeira. É lógico que estamos todos vulneráveis às mentiras e à traição, ainda assim, compreendamos que a nossa insegurança não é motivo para bloquear a confiança. Se percebermos a insegurança como um equilíbrio entre a confiança e o seu excesso, passaremos a agir com temperança, seremos responsáveis, seguros, pensaremos de maneira ponderável e cautelosa. Saibamos otimizar os nossos sentimentos, seja ele qual for, e não a suprimi-los, pois assim o aprendizado não fará sentido algum.
A confiança é livre, mútua e espontânea, por isso precisamos desencarcerá-la quando contaminada por sentimentos como a arrogância, avidez, inveja, intolerância que envenenam o nosso estado de consciência. Entretanto, precisamos mentalizar que a confiança e insegurança andam juntas, embora tenham significados antônimos, são também sentimentos que fazem parte da natureza humana e estes reúnem-se de modo que não se invalidam, mas sim conciliam e equilibram as relações. Contestá-las apenas nos culpabiliza e tortura, pois não se trata de uma imposição e superioridade, confiança e insegurança associam-se com coexistência e coerência.
Pensando bem, não precisamos de muitas explicações e orientações já que trata-se de sentimento e racionaliza-lo poderá nos conduzir ao ceticismo e insensibilidade por nos prendermos à comprovaçãos e conceitos. Portanto, encontro todos os meus questionamentos na seguinte frase de Carlos Dummond de Andrade "confiança é ato de fé, e esta dispensa raciocínio".