domingo, 27 de setembro de 2015

Pelo direito de fracassar, sofrer e perdoar-se

     Vira e mexe as nossas escolhas nos capacitam na escola da vida e nos demonstram o quão inexperientes somos, simplesmente enganados pela cega soberba e conforto de que está tudo sob controle e domínio de nossas mãos. Não, meus amigos, não está! Afinal, o problema hoje é ter problemas, peço a vocês agora licença para confessar as minhas falhas e dizer-lhes: sou uma eterna problemática. 

     São tantas exigências que acabamos em tantos momentos fraudando os nossos sentimentos e nos paralisando e vitimando quando não encontramos a solução. E aqui está o segredo: nem sempre vamos encontrá-la, que pena, mas essa é uma das únicas certezas que devemos ter na vida! É preciso humildade para reconhecer que nem tudo no mundo foi feito para se entender e ser exato, sábio aquele que não matematiza a vida, que não carrega consigo a índole ostensiva de ser super herói. Que força é essa que nos impulsiona a querer resolver tudo? Aceitar já não é mais necessário, a palavra do século é MUDANÇA, esta hoje é a solução. A paciência e o tempo são coisas ultrapassadas, fincadas nas mentes retrógradas e que hoje encontram-se quase em extinção. Pobre daquele que não acompanha todas as transformações, quem ousa tentar agir conforme um valor tradicional, ou buscar respeitar a dor sentindo-a e não substituindo-a por um conjunto de vazios que ficarão eternamente preenchidos com vários "nadas". Tudo vira moda, se descarta, vai embora e, inclusive, os momentos que necessitamos ter esperança e calma para superar o sofrimento. Caso não queira ser excomungado, mude, ou será julgado como mente do século passado. Coitados daqueles que não se enquadram por não viveram nesta era de relações líquidas e fugaz, momentos descontínuos e superficiais. Hoje é, amanhã não é mais. Adaptação já não faz mais sentido, afinal, o tempo corre e não podemos esperar, obrigar-se a estar de bem com o mundo disfarçar a felicidade é muito mais correto e plausível para se evitar a dor, já que hoje esta tornou-se motivo de vergonha e precisamos a todo momento esconde-la. Assim fazemos por não admitirmos a existência dos problemas  mundanos, assim agimos pela dificuldade que carregamos de respirar o sofrimento, admitir a nossa fragilidade, vulnerabilidade, os nossos erros e a sensibilidade como algo natural, sem a culpa, a tortura e o peso que nos desenquadra de um mundo breve e unilateral. 

     As relações atuais converteram o significado de conquista para domínio, não faz mais sentido se esforçar e dedicar pelo caminho longo da conquista, pois hoje podemos ser mais práticos e falsearmos as nossas falhas e fraquezas para suprir nossas carências e conseguir obter aquilo que queremos, seja mesmo prendendo um outro alguém ao nosso lado pelo egoísmo que suprimos para não olharmos os nossos problemas de frente. Já não conseguimos conviver com a dor, não suportamos o seu ardor e nos escudamos de qualquer mal que possa nos atingir. Extinguiu-se o direito de sentir medo, sofrimento, tristeza, ansiedade, dispersão e conflitos. Devemos todos obrigatoriamente estar sorrindo para sermos tolerados. Para tudo hoje existe uma solução, ou uma medicação. Ou não? E daí surgem as mais estúpidas e avarentas ideias que podemos imaginar, chegando a nos impulsionar ao fio da morte, às desgraças mais absurdas que procuramos para nós confortar, buscando flashs de alegria nas drogas e nos vícios mais banais que transformam a nossa vida em um lixo por não sabermos aceitar os nossos vazios, a nossa dor e a nossa solidão.

     Insistimos sempre no mesmo questionamento: Por que eu mereço isso? Esquecemo-nos, no entanto, da importância dos sacrifícios, sacro ofícios, para alcançarmos a tranquilidade da consciência de missão cumprida e ao estado da felicidade de que obedecemos todas as etapas, respeitamos os degraus, cansamos, desistimos, fracassamos e por fim vencemos, pois nos perdoamos, afinal, tentamos e vivemos. A vida por si só já é um milagre e, assim, com esta passagem é que conseguimos nos despedir dela em paz.


Por Luiza Rodrigues dos Santos

Tudo tem seu apogeu e seu declínio... 
É natural que seja assim, todavia, quando tudo parece convergir para o que supomos o nada, eis que a vida ressurge, triunfante e bela!... 
Novas folhas, novas flores, na infinita benção do recomeço!

Chico Xavier

domingo, 6 de setembro de 2015

Na contramão das etiquetas sociais

Certa feita, sentada numa mesa de bar conversando com uma amiga, entretida com suas histórias e aventuras de uma intercambista quase-alemã estávamos  naquela conversa vai, conversa vem até que nos deparamos com a seguinte questão: qual a relação que construímos com o nosso corpo? Penso e estranho as diferentes formas reducionistas de relação e visão que o ser humano constrói com o seu próprio corpo sejam elas opressivas, promíscuas, exóticas, eróticas, odiosas ou até as naturais... Naturais? Sim! Foi o que respondeu minha amiga diante da suas experiências vividas país afora. E me pergunto: por que não?! Há sim quem sinta seu corpo interna e externamente em plena sintonia, livre de modelos e conceitos impostos pelas tendências e convenções sociais. Há quem respeite todas as fases e encare as mudanças como a autonomia que vida tem para se firmar e moldar ao tempo. E então nos questionando sobre a realidade em que vivemos em plena capital baiana, diga-se de passagem multicultural, chegamos ao raciocínio de que nos falta a liberdade de poder migrar em diferentes grupos, com diferentes culturas, vestimentas e ideias sem sermos julgadas como desprovidas de personalidade e autenticidade. Prezamos pela nossa autonomia sem precisar vestir isso ou aquilo, assumir determinada identidade ou nos fidelizarmos à determinada ideologia para poder compactuar com ideias e pensamentos que não devem ser restringidos à apenas um estilo e um olhar. Queremos o direito de ir e vir, o direito de desistir e decidir o que vestir independente do que pensamos. Ao agirmos com respeito à nossa liberdade nos despimos dos nossos julgamentos diante das máscaras, capas e panos que cobrem o corpo humano, pois percebemos que o corpo se vincula à mente na mesma proporção em que o pulmão se vincula ao coração, que o esqueleto se liga à cartilagem e que a pele se prende ao músculo. Depois de muito refletirmos sobre o tema percebo que quebrar determinados conceitos e preconceitos não seria um processo de doutrinação mas sim de conscientização e debate contra os rótulos impostos ao longo processo de colonização e opressão sofrido devido às influências morais européias. Não é uma tarefa fácil descolonizar o pensamento da sociedade diante do sentimento de posse e erotização que condicionou-se à carne. É difícil impor a liberdade sem que possamos senti-la na íntegra, da mesma forma que impor respeito sem ser respeitado não faz sentido algum. Viver livre e viver bem é distanciar-se das opressões sociais por um corpo despadronizado, esteja ele exposto ou escondido. E no final do meu desabafo lhe disse: Ah amiga, devo confessar que nessas horas é preciso aperta o F****** e deixar no alerta.

Por Luiza Rodrigues dos Santos

"Tudo está fluindo. O homem está em permanente reconstrução; por isto é livre: liberdade é o direito de transformar-se".
Lauro de Oliveira Lima


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