sexta-feira, 26 de junho de 2015

No silêncio da dor

Já dizia o mestre Saramago "se tens um coração de ferro, bom proveito. O meu, fizeram-no de carne e sangra todo dia". 

Se for pra falar que seja de amor, não de dor. Fale do bem, pelo bem, ou então se cale. É de uma enorme infelicidade quem abre a boca pra falar "é assim mesmo, tem gente passando por coisa pior na vida", "que bobagem", "que besteira" ou um simples "tsc" (não há forma mais fiel para se representar o desprezo e desamor à dor do outro). Não fale nada se não for de coração, se não for pra estender a mão e dar um abraço solidário. Substitua qualquer palavra por um sorriso sincero, um abraço apertado, permita-se vagar pelo silêncio ensurdecedor diante do amparo de uma dor. O silêncio é o abrigo da alma, é interiorização, individuação, é sossego, alivio, é colo e aconchego. Não fala nada se for pra inventar, mentir ou diminuir. Apenas respeita, aceita e compreenda a dor de quem passa pelo caminho do sofrimento. Sem drama nem hipocrisia, vale mais a serenidade do silêncio sincero de um olhar do que a falsidade da expressão "é assim mesmo, daqui a pouco passa". Experimenta se calar, escuta nessas horas a dor de alguém que vem lá do fundo do peito e toca com uma profunda delicadeza nessa alma triste que chora e pede conforto e paz para seguir em frente. Desvia a atenção dos seus pensamentos, se despe dos seus conceitos e pre conceitos para concentrar a sua mente no sofrimento de quem precisa de abrigo e consolo, pois certa vez ouvir falar "O pensamento domina a audição, julga a visão, a missão", esvazie-se do barulho que a fala provoca. Escute com o corpo inteiro, com o olhar, com a lágrima, aguce os seus sentidos para captar todos os sinais sentimentais nascidos da dor. Não seja um jardineiro infiel, faça o seu papel e plante o que há de bom. Cuide. Cuidar é, principalmente, ouvir e respeitar. Nessas horas saem as coisas mais banais e absurdas que poderíamos falar. Parecem sair da nossa boca cobras prontas para envenenar o coração de alguém que sofre por uma perda, seja ela qual for. O silêncio também é amigo nessas horas, deixe o gesto falar, não deixa que mais uma palavra possa ferir e mexer na ferida que ainda está aberta. E mesmo depois de cicatrizada, se for pra doer, não fala! Segura, controla, respira, engole. Deixa a ira, o orgulho e a vingança escapulir! Ainda que diante de uma briga, lembre-se: é melhor se calar para não falar besteira. A palavra é tão poderosa e, por vezes, dolorosa quanto um tapa na cara, um tiro na testa, ou uma apunhalada nas costas, quem sabe até mais que isso?! A palavra pode exterminar, revoltar, estuprar e violentar. Cuidado ao usá-la! Não seja imprudente e meta a língua pelos dentes falando tudo que vem em desarmonia entre a razão e o coração. Tenha calma! Respeita a palavra e a força que ela tem, não dispara como um tiro no peito porque ela tem os seus efeitos
colaterais e seus sintomas, meu amigo, são totalmente destrutivos. A palavra não volta nem apaga, uma vez falada permanece pra sempre fincada no peito de quem, infelizmente, precisou ouvi-la. Espero que a frieza não permita que uma palavra maldita se congele no seu coração. Se não for para desarmar o mal, fique quieto, é o mais certo a se fazer. Se não tem nada a oferecer, se cale. Se não for oportuno esqueça, deixa a palavra na cabeça em respeito ao momento de infelicidade. 
Se sentiu uma energia ruim, um
cansaço e fracasso, se afasta. Reveja a razão pela qual você está sintonizando com o mal. Se houver energia positiva, pode estar num velório, assistindo a um nascimento, ou no hospital, suas vibrações irão sintonizar com a paz que invadirá o teu coração e irradiará em qualquer ambiente que esteja. Se tem para oferecer, distribua. Pessoas precisam, assim como você, receber uma palavra amiga, um sorriso próspero, um olhar confiante. 
Quantas vezes falamos sem pensar,
sem achar que não sabemos aconselhar? Por fim acabamos julgando, sem o amor encontrar.

Por Luiza Rodrigues dos Santos 

A palavra é declaração; o silêncio é confirmação;

A palavra é manifestação; o silêncio é revelação ;.

A palavra é expressão; o silêncio é interiorização;

A palavra é palco; o silêncio é bastidor da alma;

A palavra é ponte; o silêncio é porto seguro;

A palavra é projeção; o silêncio é realização;

A palavra é condenação; o silêncio é libertação;

A palavra é persuasiva; o silêncio é apaziguador;

A palavra é momentânea; o silêncio é duradoiro;

A palavra é desejo, turbilhão; o silêncio é amor, mansuetude sem palavras.

Aimara Maia Schindler

26/06/2015


Importante lembrar:



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